Trilha com crianças??????

Revisitando este fim de semana os inspiradores blogs Eu viajo com meus filhos e Mãe Mochileira, Filho Malinha revivi a vontade de compartilhar as nossas vivências com a Júlia desde pequena. Atualmente, publicamos as viagens recentes, lógico, e parece que sempre foi assim, mas para chegarmos até aqui, foi um longo processo…
Ouvimos sempre os maiores incentivos e elogios pelo fato de levarmos conosco nossa filha nas trilhas desde os 2 anos de idade praticamente,bem como desaforos impublicáveis de gente nos xingando e achando um ABSURDO levar a criança para os perigos insondáveis da vida na Natureza…
![]() Parque Nacional de Aparados da Serra Fevereiro de 2002 |
Na realidade, nunca paramos para nos perguntar se seria possível continuar nossas viagens de ecoturismo quando nossa filha nasceu há 13 anos.
Continuamos a viajar, e acima de tudo, a vontade de continuar a fazer o que é nossa paixão e de não concordamos em deixar nossa filha com avós, babás e tias, e perder a possibilidade de compartilhar momentos únicos com seu filho, criando laços e cumplicidade entre pais e filhos foi o que nos motivou a buscar formas de levá-la conosco.
Pensamos que o primeiro item a ser pensado, claro, é na criança. Ouvi isso uma vez de uma amiga, quando a Júlia tinha meses, e nunca mais isso nos abandonou: “quando você moldar a sua vida para o bem estar dela, todo o resto irá fluir”, e essa máxima, utilizamos em todo o processo, não só nas trilhas, claro…
![]() Parque Estadual Carlos Botelho Abril de 2003 |
Como?
Portanto, o primeiro item pensado foi no meio de transporte. Lógico, que vimos todo o tipo de coisa: criança sendo carregada no colo, nos ombros, sentada, deitada, mas pela nossa experiência, a melhor maneira ainda é o equipamento correto, que é a cadeirinha. Desde os modelos mais simples até os mais sofisticados, o importante é que ela ofereça segurança para a criança, com acolchoamento interno, cintos de segurança para fixá-la ,e também para quem a carrega, trazendo maior estabilidade e segurança.
Depois de adquirido o equipamento vem o processo de “aclimatação” da criança. É um processo, mesmo, mostrando para a criança que é uma brincadeira. Com o tempo, e quanto mais tranquilo for esta aclimatação, ela e o carregador irão se ajustando. Cabe ressaltar aqui, que durante o processo, carregue a criança na cadeirinha onde for com ela, na feira, no mercado, no shopping, no parque…
![]() Gruta do Paiva- Parque Estadual de Intevales- 2006 Com as tias Marlene e Adriana |
Acompanhantes
Vamos para os acompanhantes… Como o carregador estará sobrecarregado, literalmente, o acompanhante acaba ficando com todo o restante da bagagem. Lanche de trilha, mudas de roupas para a criança, fraldas, suquinhos, lanchinhos, marmitinhas e todo o resto .
Outra importante tarefa do acompanhante é colaborar na trilha, sinalizando os melhores pontos no caminho, onde oferece risco, liberando a trilha, visualizando em cima também, porque a criança normalmente estará acima do nível da cabeça do carregador, então ficar atento a galhos ou outros eventuais riscos.
Com relação ainda a acompanhantes, aqui sim, vale todo o tipo de ajuda. Tivemos váaarios companheiros na nossa jornada, e todos eles foram muito importantes. Desde guias cuidadosos, até nossa querida Ogroturma, que nos ajudavam de todas as maneiras, carregando a cadeirinha literalmente, ou com palavras de incentivo para a Júlia (e para o João).
![]() Pq. Aparados da Serra Fev. 2002, o guarda chuva é um “improviso”, tirado de um carrinho de bebê |
Alguns ajustes
Na caminhada:
Façamos alguns ajustes para que a criança possa nos acompanhar nestas aventuras… Consideramos ajustes aqui, desde acoplar um guarda chuva de carrinho na cadeirinha, como nós fizemos, porque a criança não suporta colocar boné até adiar a tãao sonhada aventura para a Patagônia, até a criança ter condições de acompanhar os pais.
Protetor solar e repelente, apesar de um tormento de vez em quando passarem nas crianças que não param quietas, imprescindível assim como renová-los a cada banho de cachoeira ou de mar, claro.
Para descansar a criança e o carregador, o ritmo da caminhada não pode ser como se só estivessem adultos e jovens. O ritmo deve ser mais lento, com mais paradas, até para a criança esticar as pernas um pouco, portanto, conte com uma turma compreensiva e com guias locais que tenham o bom senso de entender isto (ou como fizemos várias vezes, contrate um guia exclusivo, só para a sua família e deixe claro esta condição).
Leve sempre água, (imprescindível), sucos, bolachinhas, guloseimas.
Quando a criança for crescendo, estas paradas podem ser um pretexto para elas irem “desmamando” da cadeirinha, e aos poucos, os períodos que ela permanece caminhando irá aumentando com a idade.
Até aqui, tudo tranquilo, pois o esforço maior cabe a boa disposição do heroico carregador e aí chega o tempo em que a cadeirinha torna-se pequena e o carregador também já não está mais assim, um Hércules…
![]() Gruta do Paiva Intervales 2006, já feliz nas cavernas |
No desmame da cadeirinha:
Como sempre: aclimatação da criança e um processo lento e paciente…
No nosso caso foi o pior possível: estávamos na Trilha da Cachoeira da Laje, na Ilha do Cardoso, cerca de 20 km ida e volta, a Júlia com 4 anos, no limite de peso que a cadeirinha suportava, e para ir, beleza…
Na volta, pegamos uma chuva no caminho, os irresponsáveis guias do Parque simplesmente nos deixaram para trás, com toda a nossa turma e o João simplesmente não aguentava mais, anoitecendo, um horror!!!! O caminho até foi fácil de achar, não tinha muito segredo, mas a Júlia acabou tendo que descer, e fomos guiando ela, dando a mão nos trechos mais complicados, um na frente e outro atrás, mas com paciência (e toda a querida Ogroturma que estava com a gente) conseguimos chegar no ponto inicial da trilha.
Ficaram aqui, algumas lições deste dia:
-a criança sempre no meio de dois adultos (ainda hoje escalamos a fila indiana nas trilhas desta forma, intercalando a criançada que está com a gente);
-o adulto sempre orientando e avisando onde pôr o pé, como, onde pôr a mão e onde não, os buracos, pedras e pontos escorregadios e ajudando onde é mais perigoso;
-deveria ser o primeiro mandamento do trilheiro: “Não pularás”… já vi gente tentando dar uma de Indiana Jones e se machucando várias vezes…
-segundo mandamento: “Na dúvida, use a terceira perna”… ou como dizia nosso amigo Aércio da Chapada Diamantina, “usa o freio ABS”… eu explico: (A bunda segura), eu sei, meio feio, mas sempre funciona. Nada de novo, de dar uma de herói e Eu consigo! Ficou com receio de cair, não hesite!
-terceiro mandamento: “em pedras, principalmente molhadas, agacha,segura nas pedras e vai!” Esta história de andar equilibrando em cima de pedras, achar que pode saltar e vai cair seguro do outro lado, inevitavelmente acaba mal. Primeiro, certifique-se que terá apoio no passo que dará e então continue, neste tipo de lugar.
-quarto mandamento: “não correrás”. Você está c.a.m.i.n.h.a.n.d.o., não é uma corrida de aventuras, ainda mais com crianças.
![]() a “bóia-fria” em Gonçalves Julho de 2001 |
Na alimentação:
Algumas vezes não será possível almoçar, dependendo da distância da trilha. Levávamos uma “bóia-fria” com um potinho com um pouquinho do jantar do dia anterior e uma colher, ela sentava no colo do pai ou num cantinho e mandava ver. Lógico que aqui valem as papinhas industrializadas. No nosso caso, ela não gostava muito, pois sempre preferiu “comida de verdade”, como ela dizia.
Conforme a criança vai crescendo, com um café da manhã bem reforçado, alguns lanches de trilha, o almoço tardio também fica valendo.
Concluindo portanto, com alguns ajustes, uma conjunção de fatores, que inclui o equipamento, o carregador, os acompanhantes e claaaro, a adaptabilidade de criança, é possível sim, você continuar suas caminhadas com seu filho. Parece muito sacrificante, nestes termos, mas acreditem, não existe satisfação maior do que você compartilhar estes momentos dessas viagens, mais o contato com a natureza e o fortalecimento do laço familiar.
Continuo nos próximos capítulos…
Adorei o post. Principalmente por saber que vcs a “carregam” desde pequena para essas aventuras. Tenho certeza que um dia ela vai agradecê-los muito por isso. Parabéns! Um grande beijo
Oi Eliana!
Obrigada pela leitura e pelo comentário! Pois é, apesar de sacrificante e cansativo, não trocamos estas experiências que tivemos com a Júlia por nada! Espero mesmo que ela agradeça,hehehe!!
Um beijo prá você também!!
Marcia
Parabéns amigos, por dividir conosco estas lembranças maravilhosas, além das valiosas dicas.
Realmente é algo sem comparação ver nossos filhos seguindo no mesmo caminho que trilhamos e isto se multiplica em prazer quando os vemos caminhando AO NOSSO LADO pela Vida.
Tenho hoje o prazer de compartilhar de minhas modestas aventuras com meu filho de 15 anos e percebo por onde passamos que as pessoas parecem ter se esquecido do quanto isto é Belo!
Abraço a todos e espero que um dia nos encontremos pelas trilhas deste Mundo Melhor que estamos criando, junto com nossos filhos.
Olá Pompeo!!
Obrigada pela leitura e pelo comentário!
Eu sempre falo que não há nada que pague estes momentos realmente que vivemos com os nossos filhos e aqueles a quem queremos bem!
Como você fala, as pessoas hoje se preocupam em levar os filhos sim, mas nos resorts, para deixar com os monitores,ou levam as babás (ou avós e tias que façam as vezes de babá) para ficarem o maior tempo possível longe dos filhos…
Não sei quem está certo ou errado, no final das contas, mas este é o nosso modo de encararmos o mundo, compartilhando o maior tempo possível com eles!
Um grande abraço!
Marcia
Posso falar uma coisa? me emocionei de verdade com teu post.Só quem ama de verdade isso td sabe como é bom passar por tudo isso.cada etapa dessa, a nbossa preocupação com a segurança de nossos filhos e a torcida p dar td certo..escutar dos outros que somos loucos…tudo faz parte.Adorei o post,adorei.
Cada fase dessa é uma experiencia incrivel..tenho certeza que depois disso tudo as crianças que puderam passar por essa experiencia terão as melhores lembranças de infancia do mundo.Poder partilhar uma paixao em familia é muito,muito prazeroso!!!Acabamos de chegar de um camping e de trilhas maravilhosas e estamos loucos pela proxima.Compartilhei seu post no face,tá?
abraços em tds e uma otima semana!! 🙂
Oi Ana!
Obrigada pela leitura e pelo comentário!
Obrigada por compartilhar o post no face também!!!
Como eu já te falei, acho que essas experiências todas compartilhadas com nossos filhos serão o maior legado e a maior lembrança que poderemos deixar a eles!
Tô indo la´no seu blog dar uma espiada, vi os perrengues do alagamento da barraca mas vc não tinha postado ainda.
Beijos e uma ótima semana prá vcs também!
Marcia
Oi Marcia!
Ótimo post!
Tentei ter um ‘baby’ por 6 anos e a 3 anos desistimos… Quando alguém nos pergunta se não vamos tentar mais, respondemos que a gente preferiu fazer trekking e que um filho iria só atrapalhar…
Mas depois de ler esse post, só confirmou minhas suspeitas de que a minha desculpa é esfarrapada! Dá sim pra ter filhos e continuar a aventura! Uma nova aventura!
Vou pensar em uma desculpa melhor que essa que dou agora, prometo!
Bjs
Carla e Elio
Olá amiga!!
Obrigada! A Júlia no nosso caso,veio no susto…engravidei depois de 3 meses (!!!!) de casada, então, nossa vida em família praticamente sempre foi a 3, não tenho noção de como seria sem ela… como eu sempre digo, não foi nada planejado. Continuamos a fazer trekking por pura teimosia e vontade, porque não era fácil não, amiga! E como tudo tem seu tempo, tivemos que adiar vários sonhos esperando ela crescer, mas compartilhamos Aparados da Serra (que seria nossa Lua de Mel) com ela, a Patagônia, com ela, e agora outro sonho, que é Macchu Picchu com ela também! Seria mais fácil sem uma criança? Sem dúvida, mas como você diz, é sim, uma nov aventura e tem um outro sabor! E sempre aquela história, cada um tem seu tempo, seu momento e seu gosto.
Um grande beijo!
Marcia
Após ver o comentário que deixaram em nosso blog de viagens, vim conhecer o de vocês e simplesmente ameeeei saber que é um blog de viagens com crianças! Desde fevereiro desse ano tb temos uma nova integrante, agora com 4 meses, para as aventuras familiares e confesso que estava preocupada, pensando em como fazer pra continuar com as trilhas sem ter que deixar a baixinha com a vó, já que quero que nossa filha aprenda desde cedo como é boa a convivência com a natureza. Sei que no fim ela vai fazer suas escolhas, mas farei o possível pra mostrar que é bem mais legal passar o dia em uma cachoeira do que no shopping.
A cadeirinha parece uma boa saída para os primeiros anos..qual marca e onde vcs compraram?
Olá Cris!
Obrigada pela leitura, pelo comentário e nos seguir!
Escrevi isso mesmo, que muitos amigos nos recriminavam por carregarmos a Júlia conosco, hoje ela já tem os seus gostos “de perua”, herdados sabe-se lá de quem, mas o gosto pela natureza ainda é mais forte, e ainda que tenha a opção de ficar com as avós hoje em dia, prefere participar das viagens.
Eu diria a você que acho a cadeirinha item imprescindível para a incursão do seu bebê nas suas viagens. A Júlia começou já quase com 2 anos, antes disso, era no esquema praia e hotel fazenda (um período que não é o nosso preferido no quesito viagens).Na nossa época, não existiam quase opções, e compramos a nossa (da Kelty) numa das primeiras Adventure Sports Fair (que hoje também já está bem deturpada).
Olha alguns links aqui, só pra vc ter uma idéia:
.http://www.littletrekkers.co.uk/shop/index.php/browse/25663d8708d42dc527c91cf8d0a262f4, esse é da Inglaterra, mas de repente dá para importar…
.http://www.arcoeflecha.com.br/p-7741-Mochila-Walkid-Light–Lafuma.html, achei essa da Lafuma, mas gosto bastante desta loja, sempre tem algo legal.
Nossa, Cris, estou dando uma pesquisada, já faz um tempão, e está bem difícil de achar… sinal que não tem muita procura ainda por aqui. Deixa eu dar um palpite também,não é propaganda,mas essa da Lafuma está um preço muito bom.
Um grande abraço!
Marcia
Muito legal a postagem de vcs!
Minha filha tem dois anos e 2 meses e estará indo conosco para Capão (Chapada Diamantina), mas como ela já vem com espirito de aventura e e bateria para 16 horas de duração, é sempre bom vermos experiencia de pessoas como vocês!
Muito obrigada e que Deus continue a lhes abençoar e proteger!!!!!!!!
Olá Samuel!!!
Muito obrigada pela leitura e pelo comentário!!
A Júlia também começou cedinho e também tinha pilha até não poder mais…
O negócio é gastar esta bateria toda mesmo, né??
E garanto, a lembrança que ficam desses momentos são únicos, são memórias que vocês levarão até o fim da vida, e é isso que fica, de verdadeira recordação!
Um grande abraço!
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